segunda-feira, 1 de julho de 2013

A mulher peregrina.

Era uma noite trivial como qualquer outra, não esperava mais do que ressaca na manhã seguinte. Foi num bar no centro de Brasília, onde trombei com uma moça ruiva, um esbarrão embriagado que reviraria toda minha concepção de mundo. Seu nome era Marta, usava um vestido preto e batom escarlate. Os olhos cintilavam como duas bolinhas azuladas no rosto corado de sol.
Lembro-me muito bem que pouco falei sobre mim naquele encontro, em contra partida ela tagarelou sobre cada viagem que havia feito, capitais utópicas do estrangeiro. Detalhou seus passeios pela orla brasileira e a gastronomia de cada metro quadrado do país. Explicou a luta pela igualdade das mulheres paulistanas; o terror da seca nordestina e seus rastros de morte. Tentou se recordar de cada amor de Drummond que conheceu nos horizontes de Minas. Ensinou-me a melhor forma de degustar vinho e defendeu com garras e dentes a existência do Acre, pois ela já estivera lá. Escreveu num guardanapo as vinte melhores músicas para se ouvir ao pôr do sol. Enfureceu-se com meu desinteresse por política…
Voltei para minha quitinete aquela madrugada e penso nela desde então. Procuro aquele olhar em todos os céus, na neblina fico sem rumo. O Distrito Federal não era sua casa, aliás, nenhum lugar era. Marta pertencia ao vento, voava sem destino suficiente para saciar sua ambição. Malditos anos, memórias, nostalgia…
Provavelmente, em todo lugar onde ela passou existe uma taça de vinho vazia, um pedacinho de si para cada povo que conheceu e largou no passado. Por mais vil que seja minha crença, certamente enquanto a história da moça ruiva de olhos agudos peregrina a boca dos homens, a verdadeira Marta gira o mundo deixando saudade.

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