quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A vida de um infortunado.

Sobreviveu a desventura de nascer.
O estrebucho de desespero que ilustrou sua chegada ao mundo empírico foi a previsão de uma vida vulgar.

Encontrou-se na pureza da infância.
A momentânea salvação da malícia mundana possuía gosto de goiabada com queijo fresco. Lambuzava os beiços naqueles dias de felicidade plena.

Descobriu o infortúnio de crescer.
A cachoeira de responsabilidades grotescas o afogou sem misericórdia. Desfrutou dos sete pecados que regem o povo e acabou numa classe sem privilégios.

Entregou-se, enfim, aos vícios.
A desilusão abrigava um coração partido. Adiava o vazio no peito com a cachaça barata de um botequim hediondo até que o raro salário evaporasse.

Expirou.
Sem prantos esperneados, dívidas ou amores; achou tudo o que mais ansiara. Na morte, teve a sorte de um sonho infindável.

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