sexta-feira, 4 de julho de 2014

Sem querer querendo.

Parei em uma cidade no meio da estrada. Não me lembro ao certo seu nome. Tinha nome de santo? Não-sei-o-que-ópolis, alguma-coisa-lândia... Não importa. Era uma cidade a Deus dará, na beira de uma estrada mal asfaltada e eu estava lá. Também mal me recordo o motivo, só sei que precisava voltar para casa. Estar completamente perdida no meio do nada despertou o espírito aventureiro em mim. Mas, quando percebi que os moradores também não sabiam muito onde estavam, ele voltou a dormir. "Com licença, o senhor poderia me dizer como faço para voltar para a interestadual?" e eu recebi umas cinco respostas diferentes. Sem contar que os cidadãos não estavam muito felizes em ver uma forasteira andando pelas ruas de pedra sabão. Era como se eu fosse uma criança em uma casa cheia de porcelana exposta. Aqueles passarinhos estáticos e jarras que nunca tinham sido usadas, estavam lá, esperando para serem estilhaçados.

Parei o carro, em uma esquina. Como eu sairia dali? Sentia-me em um filme de terror ruim. Era questão de tempo para alguém aparecer com uma serra elétrica e me cortar ao meio. Ah, sem contar que não havia sinal de celular. É, sem dúvidas, bastava apenas esperar.

Antes que eu realmente me assustasse com essa ideia, saí do carro e fui comprar algo para comer. Comer tirava o nervosismo instantâneo e depois devolvia o dobro na hora de subir em uma balança. "Compre uma água e um lanche natural", pensei. Mas em uma cidade dessa, um hambúrguer bem recheado e fritas era o que tinha para comer. Só se preocupava com o entupimento de veias nas cidades grandes, aqui, isso era tão fantasioso quanto estresse ou poluição.

Depois da minha refeição que seria queimada em algumas horas sofridas de academia, resolvi dar uma caminhada pela cidade. Talvez as pessoas se simpatizassem mais com uma andante de duas pernas e não quatro rodas. Talvez alguém soubesse sair dali. Desci umas ruas, subi outras. Não havia reparado, mas as casas tinham aquele charme do fim do século passado.  Antes dos portões eletrônicos e cercas elétricas. Antes de realmente nos trancafiarmos como animais em um zoológico. O individualismo patético em que se baseava o mundo me afogou em uma enxurrada de pensamentos. Os seres humanos desaprenderam a viver em conjunto. Era por isso que ninguém conseguia me explicar ao certo o caminho de volta, a dádiva da comunicação estava se atrofiando e, em questão de tempo, seria apenas uma dor de cabeça. As relações virariam o nosso apêndice, só seriam notadas quando inflamadas.

Até que, sem querer querendo, cheguei onde estava meu carro. Estranho. Como eu havia voltado para o mesmo local? Eu não prestara atenção no caminho... É, pensei que se me deixasse ser conduzida pelo acaso, eu conseguiria misteriosamente me encontrar.

Entrei no carro e senti um alívio profundo. Liguei o rádio, coloquei um cd, meditei por alguns segundos. Apertei o play e me perdi nas histórias chorosas de um blues. Pensando nelas e apenas nelas, coloquei o pé na estrada. E quando me dei conta, estava no caminho de volta para casa.

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