É fim de agosto. O mês em que nada extraordinariamente bom
acontece, a não ser os cinco finais de semana a cada 823 anos. Não faz frio,
mas o suor não chega a aparecer sem causa alguma. O tempo parece ter entrado em
acordo com o que eu penso ser agradável.
A cidade meio acinzentada pela seca está manchada de ipês
coloridos. Engraçados são os ipês. Despem-se antes de florir. São galhos secos
e sem relevância até que, de repente, nos chamam a atenção. A beleza insólita
acaricia os nervos do cotidiano.
As pessoas deveriam ser ipês, pensando bem. Digo, quase
ninguém se despe hoje em dia. Só tiram as roupas. Eu queria ver almas nuas por
aí com as fragilidades expostas. Seria lindo. Sempre há encanto artístico na
essência de ser. Imaginem... Uma realidade cheia de cores num mundo mergulhado
em sonhos preto e branco.