quinta-feira, 12 de março de 2015

Verticalidade.

Eu fiquei observando pela janela a chuva que caía discreta e mansa, na perfeita vertical. Como se ela tivesse aprendido a contornar os edifícios. Era uma visão geometricamente perturbadora e, ao mesmo tempo, linda. Um véu de água que escondia a cidade. Reconfortante também, devo admitir. Saber que, o universo, apesar de sua gloriosa imensidão, chorava por puro acaso. Os rios se empanturravam de lágrimas doces do céu, como meu travesseiro transbordava nas noites de saudade. Identifiquei-me com os intermináveis cinzas do teto do mundo. Atrás dele só mistério. Se ele podia , por que eu temeria em chorar quando me desse vontade? O salgado escorrendo do canto do olho ao queixo não precisaria mais ter razão satisfatória para os outros, apenas um fim para mim. Alívio: a chuva que ameniza o mormaço de fim de verão.

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